Países com os quais o Brasil tem grande proximidade em pactos estratégicos políticos e econômicos estão caminhando em sentido totalmente oposto. Na madrugada de 30 de dezembro de 2020, a Argentina aprovou a lei pela despenalização e legalização do aborto. A votação da matéria no plenário foi uma promessa feita pelo presidente Alberto Fernández após a agenda ter sido negada pelo Senado em 2018. Os outros países da região latino-americana que legalizaram o aborto são Uruguai, Guiana, Guiana Francesa, Porto Rico e Cuba.
Mais tarde, com a entrada de Joe Biden na Casa Branca, a agenda bolsonarista se viu ameaçada mais uma vez, agora pelo seu mais poderoso aliado, os Estados Unidos. Como uma das primeiras medidas, o governo estadunidense abandonou as pautas antiaborto e passou a defender, mundialmente, o livre acesso à saúde reprodutiva.
Juntamente com os EUA, o Brasil fazia parte de um grupo com 30 países, liderado por Trump, Bolsonaro e Viktor Orban, presidente da Hungria, que defendiam a todo custo a família tradicional e o endurecimento das medidas antiaborto. Além disso, o grupo era contra as determinações de organismos internacionais alegando a “interferência na soberania nacional”.
Na prática, com a nova política de Biden, ampliam-se os horizontes das políticas globais sobre gênero, saúde e direitos reprodutivos. Para a assessora técnica do Cfemea, Jolúzia Batista, nesse cenário, o Brasil fica cada vez mais isolado, aproximando-se de países dominados pela ultradireita, como Honduras, El Salvador, Nicarágua e República Dominicana. Esses são os quatro países da América Latina onde o aborto é completamente proibido.
“O Brasil está ficando cada vez mais isolado. Essa movimentação do nosso Congresso é muito perigosa, pois os holofotes da política de extrema direita mundial podem se voltar para o nosso país. Então, a gente pode virar palco para a realização dessas políticas conservadoras”, avalia a especialista.